A Associação
Brasileira de Engenharia Ambiental e Sanitária (ABES-RS) realizou
nos dias 27 a 29 de agosto, o III Seminário Sul-brasileiro de Saneamento
Ambiental, em Porto Alegre.
O encontro buscou a troca
de experiência e a atualização dos principais temas
que cercam a relação saneamento-saúde no país.
Também foram analisadas as interfaces dos setores saneamento e
saúde, especificamente, no que diz respeito à saúde
coletiva.
O evento destacou o cenário
do saneamento no Brasil, que apesar de revelar um quadro desalentador,
mostra otimismo para o setor, principalmente pelos investimentos provenientes
do PAC.
"O déficit do
setor é imenso, mas há um esforço muito grande para
minimizar este quadro, que é a falta esgoto sanitário no
país para os próximos 20 anos, revelou a palestrante Jô
Ribeiro, do Instituto Brasil na palestra "Impacto econômico
das ações de saneamento: muito além dos hospitais".
Jô Ribeiro apresentou
um panorama sobre a carência de esgoto e a relação
com as doenças causadas pela falta de esgotamento sanitário
no país. Dados do Instituto Trata Brasil/FGV indicam que 53% da
população brasileira vive sem rede de esgoto; são
100 milhões de brasileiros.
A falta de saneamento básico
com coleta e tratamento de esgoto - e a conseqüente contaminação
da água por coliformes fecais - é a principal causa da mortalidade
infantil por diarréia e doenças parasitárias. Sete
crianças morrem no país por dia por doenças causadas
por implicações da falta de saneamento básico.
A pesquisa Trata Brasil/FGV revelou que 34% da ausência de crianças
de zero a seis anos em creches e salas de aula devem-se a doenças
relacionadas à falta de tratamento de esgoto, e que crianças
que vivem em áreas sem saneamento apresentam 18% a menos de aproveitamento
escolar. "As diarréias são responsáveis por
mais de mais de 50% dos óbitos e 90% das internações",
disse Jô Ribeiro.
Cenário brasileiro
O palestrante Guilherme
Franco Neto do Ministério da Saúde apresentou um estudo
da OMS divulgado em 2007 que trata sobre a carga das doenças relacionadas
às condições do meio ambiente. Segundo a pesquisa,
27% dos problemas de saúde no mundo estão relacionados às
questões ambientais, sendo que desse percentual 25% poderiam ser
alterados com a adoção de medidas essenciais de saneamento
ambiental. No Brasil, esta influência é de 18%.
O estudo mostrou, ainda,
que a América Latina é o segmento do mundo que mais se urbaniza
e, via de regra, 1/3 da população é favelada. Conforme
o médico, a urbanização brasileira das últimas
três décadas (85% da população) aumentou os
riscos ambientais e, com eles, a carga de doenças relacionadas.
Três fatores vêm influenciando este processo: a falta de saneamento
básico; os processos do subdesenvolvimento, associados aos riscos
da industrialização, e, mais recentemente, os riscos ambientais
do futuro, especialmente as mudanças do clima.
"A saúde relaciona-se
com a forma de apropriação da natureza, um exemplo é
o uso de agro-químicos ou não", enfatizou Guilherme
Neto.
Para a painelista, Patrícia
Borja, da Universidade Federal da Bahia, os indicadores de salubridade
também são instrumentos vitais para a análise da
situação do saneamento ambiental no país. Ela defendeu
a importância de incorporar avaliações qualitativas
da qualidade ambiental, bem como considerar os princípios da lei
de saneamento e as dimensões da prestação de serviços
(planejamento, fiscalização, regulação, controle
social). "Saneamento é um direito social, portanto proteção
ambiental é cidadania," enfatizou Patrícia. Ela afirmou
ainda que construir um indicador de salubridade é fazer política
com visão de futuro e visão coletiva.
O médico Herling
Alonzo, do Ministério da Saúde, que palestrou sobre o tema
"Contaminação Química, um perigo invisível
sobre o olhar do SUS" disse que o Sistema Nacional de Vigilância
em Saúde Ambiental - SINVSA atua na identificação
e avaliação da água para o consumo humano (Vigiágua),
do ar (Vigiar) e do solo (Vigisolo), com programas de educação
em saúde/comunicação de risco para a população
exposta. Além das doenças causadas pela falta de saneamento
ambiental, Alonzo destacou uma pesquisa do Ministério da Saúde
que apontou que 22% dos municípios brasileiros informaram a ocorrência
de poluição do ar freqüente e impactante. "Esse
índice representa 85 milhões de pessoas em situação
de risco, ou 49% da população brasileira", lembrou
o médico, citando o exemplo do estado do Acre, que em 2005, com
a queima de biomassa da floresta registrou em aumento de 45% de doenças
respiratórias de acordo com a AIH do SUS.
A contaminação
do solo ainda é mais grave segundo o especialista. "Quantos
milhares ou milhões de brasileiros estão expostos e sendo
afetados por acidentes com produtos no Brasil"? Segundo oVigisolo,
o uso indiscriminado de agrotóxicos representa 20,3% dos registros
do SUS, sendo que a maioria desses produtos são aplicados por crianças,
idosos e mulheres grávidas. Os produtos derivados de petróleo
correspondem a 16,1% e os resíduos industriais, 12,3% ( MS/2007).
Alonzo alertou que o Brasil
está próximo de liderar o uso de agrotóxicos em nível
mundial e que os estados do Paraná, São Paulo, Rio Grande
do Sul e Mato Grosso são os principais consumidores desses produtos
agrícolas.
Lançamento
Para o presidente da
ABES-RS, Geraldo Portanova Leal, os resultados do Seminário não
poderiam ter sido melhores, tanto pelos aspectos intrínsecos que
envolvem os setores do saneamento e saúde, quanto pelos aspectos
da vigilância sanitária e de atenção às
populações mais carentes da população. "Queremos
contribuir para a aproximação destes dois segmentos da sociedade,
buscando novas alternativas de debate e promovendo a difusão de
experiências bem-sucedidas sobre os fatores ambientais e sua relação
com as doenças causadas pela falta de esgotamento sanitário",
afirmou Leal.
O anúncio da entrada
da ABES-RS no Conselho Deliberativo do DMAE - aprovada em 25 de agosto
por unanimidade pela Câmara Municipal de Porto Alegre - foi recebido
com aplausos pelos participantes na solenidade de abertura do Seminário.
Na ocasião, a ABES-RS
lançou o livro "Inovações Tecnológicas
no Saneamento - Lodos e Odores", resultado do 1º Encontro de
Inovações Tecnológicas no Saneamento-Lodos e Odores,
que ocorreu em abril de 2007, em Porto Alegre.
O livro trata da questão
Lodos e Odores - seus problemas e as diferentes soluções
que vem sendo adotadas no Brasil no tratamento da Água e do Esgoto,
dividindo o tema em oito capítulos.
Os capítulos relatam
as mudanças e a nova realidade do setor quanto ao assunto; a importância
do tratamento dos lodos de ETA e ETE; as experiências e as soluções
com tratamento de lodo e para os problemas de odores no país.
A obra é organizada
a partir da visão das organizadoras do livro, jornalistas Cecy
Oliveira e Gilmara Gil - responsáveis pela pesquisa, entrevistas,
reportagens e textos, com a consultoria técnica da engenheira sanitarista
Deisy Maria Andrade Batista e da diretora da ABES-RS, Maria Lúcia
Coelho Silva.
Encerramento - A justiça ambiental
Superando as expectativas
de público, o evento reuniu 300 profissionais e encerrou discutindo
o conceito de justiça ambiental - uma nova forma de pensar e agir
na defesa e promoção da saúde - segundo destacou
Marcelo Firpo da Fiocruz, na palestra "A justiça ambiental
como um critério de avaliação de políticas
públicas".
Para o pesquisador, e também
um dos idealizadores da Rede Brasileira de Justiça Ambiental criada
no Fórum Social Mundial de 2005, em Porto Alegre, o conceito de
justiça ambiental permite pensar de forma integrada o desenvolvimento
de ações de prevenção e promoção
da saúde. "Este novo olhar de forma global o ecossistema social,
deve também transcender a concepção biomédica,
integrando-a á saúde das comunidades e dos ecossistemas",
afirmou Firpo. |